quarta-feira, janeiro 23, 2008

A Senda do Domínio da Vida

Necessário faz-se dizer que a vida, em suas tortuosas margens, segue como a água de um rio para um destino certo: o fundo dos oceanos. Nós, seres feitos de Hidrogênio, Oxigênio, Carbono e Nitrogênio, frutos férteis das estrelas, estamos aqui com o objetivo de aprender. Ao longo da História da humanidade aprendemos a falar, a escrever e a deixar conhecimento para os próximos que virão, depois de nós, ocupar em corpo e alma a dimensão da matéria.

Somos como que jogados no Reino de Deus para aprender. E o aprendizando não é simples. Começa com os nossos pés, que tocam o chão logo que saídos que somos do meio aquoso do ventre materno. Partimos para o mundo com os dois pés no chão. Para ascender com passos impolutos a escada da sabedoria, temos que nos preparar devidamente.

Aprendemos primeiro a usar os nossos olhos, que ora imersos na escuridão de nada nos serviam. A luz nos ofusca a princípio, mas quando nos acostumamos às cores que ela nos possibilita ver, entendemos a importância da visão em nossas vidas. Já éramos capazes de ouvir no ventre materno, mas não falávamos. E aos poucos vamos aprendendo os Fundamentos essenciais através de nossos sentidos para entender como funciona a vida material.

A partir daí podemos determinar a Senda do Domínio da Vida. Até então a nossa vida dependia do líquido amniótico e da alimentação umbilical. Pouco mais tarde, dependemos ainda que nossos pais nos alimentem devidamente. Daí em diante começamos a caminhar com as nossas próprias pernas. Para obter a Coroa e declararmo-nos Reis de nós mesmos, o primeiro passo é reconhecer a nossa fragilidade. É tendo essa Humildade que podemos expandir a nossa visão e dar o próximo passo.

No passo seguinte deve-se aspirar às Verdades Fundamentais. São os valores morais e a educação básica que nos permite interagir em sociedade e reconhecer no próximo a mesma divindade que há em nós mesmos.

Reconhecendo isso tudo, estamos preparados para o passo seguinte. Somos convidados a sermos sinceros para evitar que a falsidade, a mentira e a discórdia provoque a perda de nosso autodomínio. Não se deve vacilar: a sinceridade, associada à honestidade e a humildade não ofende ninguém. Deve-se ser sincero sem perder o equilíbrio, ou novamente podemos perder a estrada do Domínio da Vida.

Também é necessário confiar. Não apenas confiar em nós mesmos, mas confiar no próximo que, porventura, possa servir-nos com o seu trabalho. Decerto que comemos, mas não o faríamos se outro não plantasse e outro ainda não colhesse. Em tudo há o equilíbrio. Reconhecer a função do próximo em si mesmo é saber que o alimento ora plantado por outro fará parte de nosso corpo. Constituirá nossos ossos. Nisso consiste o conceito de Eternidade. Eternidade das relações, dos ciclos e da Vida. E é com confiança que se atinge esse estágio.

Então somos convidados a conhecer a Beleza do Universo. Ao identificar no mundo que nos cerca a nossa simultânea dependência e independência, somos convidados a ver a Glória do criador. Nessa etapa vemo-nos, mutuamente, dispostos a perdoar e a sermos perdoados. Tal estímulo nos levará a compreender ainda mais a Glória que é viver nesse Reino. E o quanto é importante estarmos ligados a tudo e a todos que nos cercam.

Conheceremos mais duas etapas para obtermos o Domínio da Vida: A Força e a Misericórdia. Muitos dirão que são dois caminhos opostos. E de fato o são. Mas nem por isso deixam de ser complementares. De nada adiantará ter Força para construir um templo se não houver Misericórdia que garanta o descanso dos construtores. De pouco adiantará ter Misericórdia com os desprovidos se não dermo-lhes Força para que eles possam reerguer-se. Entram nessa etapa do caminho dois valores morais de imensa importância: a Admiração pelo próximo, que visa a dar-lhe força, e o Amor ao próximo, que almeja a dar-lhe segurança para que ele possa, também, demandar o Domínio de sua própria vida.

Aí conseguimos Entender o que se passa com o Universo. Nessa etapa, seremos capazes de ter Alegria, sintoma daquelas compreensões interiores que nos acostumamos a chamar de Luz. Luz essa que nos permite vislumbrar o que antes parecia oculto. Que nos permite ver através do véu. Que nos permite transpor e transitar por universos desconhecidos. Universos esses nada mais do que os meandros internos de cada um. Esse Entendimento é sinônimo de Inteligência, que é a capacidade de discernir racionalmente o justo do imperfeito, o perfeito do injusto e a incerteza da exatidão.

Aí poderemos alcançar a tão necessária Sabedoria. Sabedoria que precisa de boas doses de Altruísmo. Vinícius de Moraes, grande poeta e músico brasileiro, já dizia que "Quem de dentro de si não sai vai morrer sem amar ninguém". Isso é fato. É necessário sairmos de nossa existência mentalmente para sentir a vida do outro na própria pele. Isso ajuda a aliviar a calma e raiva, pois sentimos no outro os efeitos de nossas palavras antes mesmo de dizê-las.

Sempre que pensamos em homens sábios, não os vemos em momentos extremados de sua vida, e sim com uma serenidade que só seria possível com uma grande vontade de sair de si. O grande mestre e Rei Salomão pediu uma única coisa ao Senhor para governar o seu povo: Sabedoria. Sabedoria que o ajudava a julgar com maestria.

Aí só nos resta ter Fé para chegarmos ao que chamamos Domínio da Vida. Nessa etapa, obtemos a Coroa material de nosso Reino e somos capazes de fazer o que quisermos. Se não quisermos mais nos irritar, não mais nos irritaremos. Se quisermos apenas fazer o nosso trabalho e dele tirar nosso sustento, também poderemos fazer. Se quisermos até mesmo enriquecer materialmente, também poderemos. Desde que apliquemos, desse ponto em diante, tudo o que foi aprendido na Senda do Domínio da Vida. Essa Senda, no entanto, tem dois sentidos. Muitas vezes nos deixamos levar pelos sentimentos e pensamentos negativos e aí passamos de um ponto a outro nessa estrada sem compreender que estamos voltando em vez de avançar. É necessário discernimento para entender a necessidade de ascender, e não de descender.

A espiritualidade não deve ser separada da matéria para compreender tudo isso. Pelo contrário: a matéria tem a sua própria espiritualidade. A espiritualidade está em todas as coisas. Portanto não se deve entender que a Coroa com que nos deveremos investir está longe de nós. Pelo contrário. Está dentro de nós. Cabe a cada um visitar o interior de seu próprio reino para nele descobrir os frutos da profunda paz que almejamos. Essa peça de arquitetura visa a trazer aos irmãos instrumentos harmônicos e universais para que possam adquirir o tão desejado autodomínio. Bem como possam auxiliar os seus próximos na construção apropriada de seus templos interiores.

Convido você, leitor, a tecer os mais belos tapetes, a escolher as mais belas cores e a erigir os templos mais firmes do mundo. São os templos em que somos os sumos sacerdotes: os templos de nossos espíritos.

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