sábado, dezembro 02, 2006

A atração de identidades

Personalidades e arquétipos são, às vezes, palavras que usamos para definir alguém e a sua compatibilidade para conosco. No entanto, não há conceito melhor que o de identidade para aí assim definir regras de atração humana.

Não há na História da humanidade ser humano que não reconhecesse em seus pares as identidades prediletas. Entre amigos, amigas ou amantes, sempre há o "eu" (id) reagindo com as mesmas forças, em vetores que muito embora possam ter diferentes direções, apresentam ainda assim o mesmo objetivo e sentidos similares.

São setas mesmo apontando para os mesmos alvos, mas por diferentes ventos que possam levá-las a um mesmo lugar. Dessa forma vemos povos se reunindo para a guerra e, posteriormente reunindo-se umas vez mais para a paz, ainda que os mesmos sejam movidos para tais sentidos opostos por um período de destruição para um período de reconstrução do nosso espaço.

Dessa forma adotaram-se conceitos como personalidade para permitir um amor que dure. Mesmo que o amor dure mais do que as personalidades. O conceito de identidade permite identificar melhor as relações, sobretudo as amorosas, como um conjunto de caminhos possíveis para um objetivo comum. Se um casal quer ter filhos, prosseguirá com o amor caso tenha esse objetivo realizado. Caso não se concretize, a identidade deixaria de existir, pois o outro não identifica mais no primeiro vetores de mesmo sentido.

A razão e a emoção influenciam esse complexo índice. Afinal não mais identificar significa não sentir de um lado e não expressar do outro um sentido comum para a vida em comum. Não fosse essa necessidade, não haveria famílias ou casais que simplesmente resolvem nunca viver junto. Identidades separadas são possíveis no amor, desde que esse amor permaneça nos moldes da amizade ou na forma de um relacionamento em que a retenção não é necessária.

Ainda assim haveria o reconhecimento de uma identidade possível, isso é, uma identidade que permite que os sentidos se orientem a um mesmo caminho. Ainda que isso não seja o amor, permite a paixão que se reconheçam identidades. Ainda que não resulte num amor, a paixão -- que vem do grego pathos, doença -- permite ser curada pelo amor ou pelo senso de realidade.

Sabemos que a paixão nada mais é do que a aproximação de alguém por si mesmo. Dado que nesses momentos ocorre a ilusão -- maya -- de que o outro ou outra é o que pensamos dele ou dela, o ideal é não nos iludirmos: cada pessoa tem a sua identidade, e quando confundimos a nossa com a do outro, ficamos sujeitos a um jogo químico ora saboroso, ora doloroso. Fiquemos, portanto, com o amor, que no fim, entre a vida e a morte, ainda é o que nos sustenta vivos para que aprendamos sobre os outros e sobre nós mesmos.