sexta-feira, março 02, 2012

A Beleza

No sentido helênico, a Beleza não era relativa. Ela tinha características específicas, as características mais naturais de um ser humano saudável. A beleza simbolizada pelo corpo humano perfeito que aparecia em suas estátuas inspirou toda a cultura humana. No século 21, falamos das cirurgias plásticas e intervenções das mais diversas que possibilitam a manutenção de um conceito helênico de beleza, único na História e inspirador de muito da Arte que viria a seguir.

Mas a Beleza não é somente grega. Em hebraico a palavra beleza é Tipheret e representa as grandes Verdades da vida. Entre as emanações da Força da Vontade e da Misericórdia do Amor, a Beleza figura na parte central da Árvore da Vida. Está associada a conceitos como espiritualidade, equilíbrio, integração, milagres e compaixão. Também está associada à verdade.

É fato que, quando presenciamos uma situação ou acontecimento realmente verdadeiro, ele é pleno de beleza. A verdade é rica nesse capital, pois impressiona e provoca reações transformadoras, por vezes dolorosas, por vezes preenchidas com imensa alegria. É como a criança que observa um cão pela primeira vez. Ela vê no cão a verdade da vida na natureza e sorri, pois entende que há vida tanto em seus olhos, quanto no olho do simpático animal. E essa vida compartilhada é o que chamamos de compaixão. Que é, afinal, um sentimento muito bonito e enriquecedor.

A religião cristã e a budista possuem grande apreço pelo sentimento de compaixão. O mundo sempre foi um lugar de desacerto e desequilíbrio, cheio de crenças distintas, idiomas totalmente diferentes, sistemas políticos e sociais diversos. A compaixão nesse mundo tem sido sempre algo necessário. Significa, afinal, estar no outro. No sentido etmológico, trata-se da palavra paixão, do grego Pathos, com o prefixo "com". Pathos no grego significava sofrimento, por tanto, compaixão é seria algo como "sofrer com", ou seja, no fim, colocar-se no lugar do outro e desenvolver a Tolerância, uma virtude essencial à convivência.

Convivência que, nesse planeta, está comprometida pelo impasse. Estamos vivendo o século do impasse. De um lado a paz, de outro o terror. De um lado a saúde, de outro a doença. Por toda parte a natureza berra e avisa que se faz presente, prestes a colocar ordem no caos muito criado por nossas intervenções nesse planeta.

Isso tudo, apesar de verdade, pode não parecer nada belo, mas é extremamente importante. Diante disso tudo, a compaixão é uma excelente ferramenta para podermos ajudar uns aos outros. É uma grande oportunidade para termos mais consciência sobre a natureza. Tornarmo-nos, no fim, mais inteligentes, mais sábios e mais espertos. Ou temos que acreditar que paramos de evoluir? Não creio. Em verdade, a evolução de tudo nunca tem sido tão rápida. Isso acontece porque aprendemos a abraçar as verdades a partir da religião, que tem nos ensinado a moral, e da ciência, para desvendar os mistérios da natureza. No entanto, em algum momento, passamos a relevar a ciência e a religião, o que vem preenchendo o mundo de ignorância, intolerância e tudo aquilo que, conforme aprendemos anteriormente, mais destrói do que constrói. Mais corrói do que colabora para um destino justo e perfeito na medida de um equilíbrio sustentável.

Mas há esperança! A virtude de poucos bons sempre irá se sobrepôr ao vício dos muitos maus. Mas ainda assim é necessário que existam os bons. Aliás, é necessário que os bons se tornem ótimos para, em seguida, transformarem-se em excelentes. E a partir dessa excelência, a consciência passa a ser a ferramenta-chave para abrirmos as portas de nossas percepções, levando-nos a perceber não apenas o nosso corpo, mas a alma de todos. E, com isso, desenvolvermos uma consciência coletiva que nos levará a uma infusão intensa de bons princípios, sã moral, sábia justiça e infinita Beleza em nossas ações, palavras, ideias e intenções. A partir da beleza da verdade, e não da beleza da vaidade, é que, de fato, seremos lindos.