sábado, março 19, 2011

O perigeu

De tanto observar a Lua
o Homem que navegava se perdeu
A maré o levou para a sua rota,
não para o destino que ele tinha,
mas para o que Deus lhe deu.

E ao ver à sua frente uma praia
e o desembocar de um grande rio
sentiu-se pequeno por sua viagem,
antes destinada a outra paragem,
mais do que nunca se sabia vazio.

Mas não se pos a chorar, seguiu
para dentro do rio com o seu barco.
À imagem de uma flecha sem arco
e sem alvo adiante:
entre o desvario e o desafio.

A Lua brilhava e o céu tinia:
ela estava no perigeu.
e foi isso o que lhe permitia
navegar à noite como se fosse dia
e assim não se perdeu.

Até encontrar no rio a Terceira Margem:
a divisão do rio em dois
e ter certeza de que sua viagem,
apesar de aleatória,
não seria deixada para depois.

O Sal da Terra que os rios dissolviam
e depositavam no imenso mar
eram como o Homem e como uma alma vivida
voltando, definitivamente,
ao seu lar.

O Homem que navegava somos Nós
e a Lua, nossos sonhos perdidos.
O Barco é o verdadeiro algoz,
o anestesista dos sentidos.
E o Sal é a Verdade e a Consciência.

E para partir numa viagem a sós,
para um reencontro com o que faz sentido,
os céus nos enviam a Luz,
das estrelas, como ideias, como memes:
somos Livres e giramos os lemes.