terça-feira, dezembro 25, 2007

Uma canção do Astrólogo


É Natal para a egrégora cristã. Tempo de trocar presentes e amores que valham a pena. Mas também tempo de lembrar do nascimento do divino como homem (e do nascimento do homem como divino). No mundo moderno, por vezes esquecemos de considerar o conhecimento milenar que nos é passado ao longo dos tempos. Além do nascimento do Cristo, que traz diversos simbolismos diversamente ignorados pela grande maioria dos fiéis, há muitos outros de que se desdenha por desconhecer a História que há por trás da construção de grandes sistemas filosóficos.

É o caso da Astrologia, ciência da antiga Babilônia e do Egito que chegou até nós apenas através de linguagem simbólica. Trata-se de ciência milenar baseada na observação humana ao longo da História. Muitos foram os estudiosos que partiram desses estudos para conseguir elaborar diversas teorias. Um dos mais recentes foi Jung que em seu livro O homem e seus símbolos elaborou densa pesquisa sobre os arquétipos elaborados pelos astrólogos para definir melhor o que ele chamou de inconsciente coletivo.

Diversos artistas trataram desse tema de diversas formas. Leonardo da Vinci, ao elaborar a Santa Ceia, dispôs os apóstolos cada um representando uma constelação, com Jesus sendo o Sol que passa por todas as 12 constelações no período de um ano. Outros artistas utilizaram-se da simbologia dos desenhos das estrelas em suas obras. É o caso de Michelangelo em sua Capela Sistina, em que colocou nos afrescos diversos desenhos relacionados aos desenhos dos signos. Há muitos mistérios que poderiam ser falados aqui sobre esse assunto, mas de nada adiantará falar sobre eles sem falar sobre a Fé, a Esperança e o Amor.

Sobre isso, traduzi um poema do grande Rudyard Kipling que trata um pouco desses temas. Suas palavras permitem muitas interpretações, mas a que mais vale é a do Amor: com o Amor somos imbatíveis! Por isso desejo a todos vocês um Feliz Natal, com muita inspiração e sabedoria que levaremos por todas as nossas vidas!

Uma canção do Astrólogo
Rudyard Kipling
Tradução de Leonardo Dias

Para os Céus que nos são abertos
Olha e presta atenção
aos planetas que nos amam
Todos de ouro cobertos!
Que carruagens, que cavalos
contra nós serão atirados
Se as Estrelas em seus cursos
lutarão ao nosso lado?

Tudo o que se pensa ou clama
sobre o que sob o Sol e além
São tudo Um com as suas chamas
como nós somos Um também:
Todo espírito, toda matéria
Todo quadro, toda maneira
Do mesmo Um recebe e herda

Sua Força inteira!

(Ó, homem que tem negado
Todo o poder salvo o seu
O poder delas mais elevado
é como o da Glória de Deus.
Nem quando elas somem
Tal poder conhece a si.
Se soubesses, ó, homem
Que tesouro está aqui!)

A terra treme em seus trons
E nos perguntamos por quê!
Mas o cego planeta sabe
Quando nula a sua régua é
Sintonizado desde a Criação
Para o perfeito acorde maior
Ela tremula em sua estação
e enaltece o seu Senhor.

As águas têm subido
mas flores são ilimitadas --
as enchentes deixaram partidos
os elos de aço, as correntes trançadas.
Nada pode segurá-las
e sua fúria irá durar
até que o Sinal a comandá-las
afunde nas trevas ou suma no ar.

Através de abismos desconhecidos
Sobre golfos além do pensamento
nosso lado é esquecido
nossa prova é tormento.
Ainda algo elas vão preparar
cuja natureza compartilhamos
faz com que nós que tudo suportamos
sejamos capazes de mais suportar.

Ainda que venham terrores mais
Nós não teremos medo
Nenhum poder nos desfaz
salvo o de quem nos fez desde cedo:
muito menos além da razão
ou da esperança cairemos; contudo
todas as coisas têm sua estação
e a Misericórdia coroa tudo!

Então não duvidais, Ó temeroso --
O Eterno é Rei --
Corações ao alto, seja valoroso
e devidamente cantai:
Que carruagens, que cavalos
contra nós serão atirados
Se as Estrelas em seus cursos
lutarão ao nosso lado?


Poema original:
An Astrologer's Song

To the Heavens above us
O look and behold
The Planets that love us
All harnessed in gold!
What chariots, what horses
Against us shall bide
While the Stars in their courses
Do fight on our side?

All thought, all desires,
That are under the sun,
Are one with their fires,
As we also are one:
All matter, all spirit,
All fashion, all frame,
Receive and inherit
Their strength from the same.

(Oh, man that deniest
All power save thine own,
Their power in the highest
Is mightily shown.
Not less in the lowest
That power is made clear.
Oh, man, if thou knowest,
What treasure is here!)

Earth quakes in her throes
And we wonder for why!
But the blind planet knows
When her ruler is nigh;
And, attuned since Creation
To perfect accord,
She thrills in her station
And yearns to her Lord.

The waters have risen,
The springs are unbound -
The floods break their prison,
And ravin around.
No rampart withstands 'em,
Their fury will last,
Till the Sign that commands 'em
Sinks low or swings past.

Through abysses unproven
And gulfs beyond thought,
Our portion is woven,
Our burden is brought.
Yet They that prepare it,
Whose Nature we share,
Make us who must bear it
Well able to bear.

Though terrors o'ertake us
We'll not be afraid.
No power can unmake us
Save that which has made.
Nor yet beyond reason
Or hope shall we fall -
All things have their season,
And Mercy crowns all!

Then, doubt not, ye fearful -
The Eternal is King -
Up, heart, and be cheerful,
And lustily sing: -
What chariots, what horses
Against us shall bide
While the Stars in their courses
Do fight on our side?

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