sexta-feira, julho 07, 2006

Choque

- Vou encontrar você quando você estiver o mais próximo possível, isto é, dentro de mim.

Com essas palavras ela se despediu. Ainda não se conheciam plenamente, mas já havia a vontade de escalar paredes, de se deixar levar por uma onda de loucuras. Horas e horas.

- E eu vou olhar nos seus olhos quando você sentir aquele choque elétrico dos amantes.

E um beijo mais intenso foi compartilhado. Ela saiu e entrou em casa. Ele partiu com o seu carro. A cabeça em devaneios mil. Imagens de calor e paixão, cheiros e calores, textura da pele. Tudo convergindo numa grande tela, um painel colorido. Talvez algo entre Da Vinci e Pollock, um sorriso abstrato aqui, um monte de tinta ali e, no final, apenas o êxtase dos que vêem as obras de arte faz sentido.

Ouvia Vinícius e, em determinado momento, uma frase especial: "A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida". Imaginou o amor como um misto de encontro e desencontro em seus movimentos. Como numa dança em que os pares juntam-se e soltam-se para compor os mais sutis movimentos.

E foi assim que ele a encontrou novamente.

Dançaram juntos a noite inteira. Exaustos, foram dormir juntos. E acordaram de madrugada para escrever um roteiro a dois. A história que criaram era recheada de suspense. Era como se quisessem estender o clímax o máximo possível. No final, a grande revelação surgiu na forma de prazer. O mundo parecia compreender aquele roteiro, afinal o mundo que conhecemos - com suas linguagens e desvarios - só é possível graças ao amor que nossos antepassados fizeram. O mesmo amor que fez com que ela dissesse algo que lhe custa muito. Algo que fez com que ambos sentissem o choque elétrico que o cosmos nos reserva como prêmio pela perpetuação da vida. Tudo porque ela disse:

- Eu te amo.

Um comentário:

Anônimo disse...

Delicado, como sempre :)
Beijo