sábado, setembro 15, 2012

A arte de sonhar

Analice sonhava e tinha ternura. Eram imagens e paisagens verdes enormes, onde vales intermináveis desembocavam em lindos rios e braços de mar. O céu era povoado de estrelas à noite e o sol enviava junto com os seus raios um sorriso convidativo para o dia. A vida, inevitável, cumpria-se da mesma maneira.

Sonhar é uma arte. E se fôssemos todos neurologistas, eu e você, caro leitor, poderíamos até mesmo imaginar -- e imaginar é sonhar acordado -- que há construção de algo nos sonhos ainda incompreensível pela ciência. É como se construíssemos pequenos blocos de possibilidades em nossas mentes e, tais blocos, erigidos com a mente racional enquanto estamos acordados, levam à construção de nosso destino, etapa por etapa, por caminhos às vezes inimagináveis. Mas que, ao mais atento iniciado e ao sábio buscador, sabem afinal ser uma obra construída no plano das ideias.

Idear é preciso. Viver é impreciso. Por isso os sonhos traduzem-se em realidades tão distintas quanto possíveis. Como é o caso do executivo que, sonhador em remar, abriu uma escola de rafting que se especializou em atender executivos. O mundo é cheio de exemplos e você pode até conhecer mais casos desses do que eu. A vida nos leva ao nosso destino quando ele é construído com a devida arte do sonho.

Você dirá:

- Como sonhar? Como lembrar dos sonhos?

Os sonhos são inesquecíveis. O acesso a eles se dá por meio de químicas extremamente interessantes. No entanto é possível acessar essas memórias por meio da meditação, do autoconhecimento, da yoga ou da iniciação. Alguns descobriram que era possível por meio da química, mas tais experiências são deveras perigosas, ainda se desconhece o real poder da mente e o que ela é capaz de fazer. Se não no presente momento da vida do indivíduo, no futuro. As imagens e símbolos que criamos em mente traduzem-se numa estrada cheia de curvas que inevitavelmente teremos que trilhar. Se criamos uma estrada na beira de um abismo, o risco de cair aumenta. Mas se soubermos voar ou andar em linha reta, ou fazer com poucas curvas o caminho, torna-se mais fácil construir a partir do sonho.

Qualquer que seja o seu meio, vá até o fim.

Ariel era um anjo e ele tinha as ordens do Senhor de promover a paz no mundo. A paz poderia ser obtida de duas maneiras. Numa delas, era garantida a comida para todos os povos e todos ficariam tranquilos com as suas farturas. Na outra, era garantida a água para todos, então a sede terminaria e haveria esperança em todos os rincões da Terra. A terceira opção era que não haveria nada para ninguém, todos morreriam, e então haveria paz no mundo. Ariel optou pelos rios e oceanos e garantiu que a água sempre se renovasse por meio das tempestades.

No entanto apenas a água era insuficiente, já que ainda assim faltaria comida para alguns. Ariel sabia que tinha poucas opções, mas o Senhor dotou-o com Sabedoria, e ele decidiu sonhar. Sonhou com um vale onde passava não um rio de água, mas sim um rio de ideias. E esse rio iria sempre fluir de forma a permitir aos homens que novas ideias, como a nova água que sempre passa pelos rios, pudessem lavar e polir as pedras, deixando-as macias e aptas à convivência e à tolerância. Ariel criou a Criatividade para o homem e fez com que ela fosse como um rio de água doce e límpida que pudesse tirar o sal da pedra e levá-lo para o mar.

Nada disso sobre o anjo Ariel é verdade, mas poderia ser. Essa história contem símbolos importantes que traduzem os sentimentos de muitos. E o sonho traduz o sentimento das nossas vidas, traduz aquilo por que sentimos amor. E o amor não é algo facilmente explicável a ponto de conseguirmos colocá-lo em palavras. Um sonho tampouco é facilmente explicável. Ele possui símbolos e imagens que, se soubermos conhecê-las e traduzi-las, seremos capazes de interpretar sonhos. E os sonhos farão parte de nossa vida.

Há aqueles que dizem esquecer os sonhos. A esses recomendo dormir pensando que se quer lembrar dos sonhos. Essa simples instrução induz a memória a aceitar essa proposição e deixar a memória consciente assistir a esse sonho e se manifestar de forma justa. No fim tudo ficará perfeito quando se souber o que se sonha e o que se sonha.

Quando você quiser sonhar, não pense apenas em dormir.

Imagine, crie, você estará sonhando.

Acima de tudo, tenha ternura e manifeste sempre aquele brilho nos olhos de quem está buscando a Verdade e que sempre acredita que irá encontrar um pedacinho dela na próxima esquina, na próxima página, na próxima palavra, no próximo sonho. E inevitavelmente ela virá.

A arte de sonhar é a arte de viver atento ao detalhe, ao sutil, ao verdadeiro. Por isso a criança astronauta sonha com as estrelas e adulta conseguirá tê-las.

Vamos caçar estrelas?



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