segunda-feira, setembro 29, 2008

Fruir

Quando você tem certeza de algo, hesite: há o sensato antes do risco. Remanescer é prescindir-se de queixas e antecipar os acertos para pressentir a glória que se manifestará. Desistir é insistir na inércia. Morrer é transcender a matéria, que se renova, e o espírito, que se eleva quando tem misericórdia e busca a Verdade.

À tarde você poderá dizer que não sentiu o dia, ou que não manifestou uma ideia devidamente. A feiura do ócio é pressionada pela bela e real sensação de dever, anteparo das emoções de alhures.

Antes de presumir que de nada a nada lhe levarão essas palavras, aqui lhe afirmo: de nada a nada fez-se o tudo que existe. Certamente que do ócio do nada, nada mesmo poderia germinar. Se você semeia bons frutos, o seu campo terá o aroma de riquezas naturais que houver no solo. Do nada ecoou um grito, e, num suspiro, saiu o Universo que conhecemos e que se expande.

Somos todos feitos do solo, portanto a humildade do que sabe abaixar a cabeça é tão forte quanto a de quem sabe olhar nos olhos: olhar para baixo é olhar para si, um mergulhar em si mesmo. Olhar nos olhos é conhecer a si mesmo a ponto de ver no outro o mesmo sagrado segredo que há em você: a vida.

Se você pratica o olhar atento, sabe que as coisas são feitas de relações intrínsecas a elas mesmas: todos os átomos carregam em si os ecos primordiais do universo. É como se todos nós fôssemos uma grande canção, cujas palavras fizeram a luz e a tudo fazem até hoje. Se o que nos cerca, portanto, é uma música que a tudo dá forma, direção e sentido, sigamos até o fim. E o que nos resta é só o começo.

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