A falta da razão, esta sim, destruidora de lares, acaba com o cidadão. O coloca como incapaz de comer a dieta correta, de fazer o exercício adequado, de tomar as decisões saudáveis para a vida. Ela faz o homem atuar em comédias, tragédias e dramas cujos roteiros são escritos em salas de escritório, casas noturnas, praças públicas e entre quatro paredes. A razão é a grande vilã da humanidade por seu inexplicável abandono.
Quando o homem decidiu deliberadamente abdicar da razão e da ética para cometer toda sorte de atrocidades, revelou ser não apenas o topo da cadeia alimentar, como também o cume da ignorância e da obscuridade. E agora, mais recentemente, para livrar-se da dor do abandono da razão, desinforma-se com diversas informações rasas que pouco levam a crer que os farão tornar-se melhores.
E o remédio mais recente tem sido o grande acúmulo de informação sobre o nada. O homem moderno é como um Jerry Seinfeld sem a vantagem da ficção e do roteiro pronto, em que o raso passa a ser a grande anestesia para um mundo, outrora Éden, hoje constantemente perturbado.
O nada é o niilismo e o vácuo. Um exemplo: o vácuo criado dentro do Colisor de Hádrons do CERN, na Europa. O leigo lê que lá se criam colisões que podem criar um buraco negro e espalha essa notícia desagradável. O profundo cientista irá ficar interessado nos números e nos resultados para tentar entender um pouco mais do nosso universo. Por que não pode mais a humanidade toda se aprofundar para evitar a paranóia, a desinformação e o inadmissível?
Somos livres, no entanto a escolha pelo fútil faz parte de uma série de decisões erráticas sobre o que fazer com o nosso tempo. O tempo investido em nonada é como o trabalho de enxugar gelo. O tempo é o nosso bem mais valioso, não podemos desperdiçá-lo. O que deve ser buscado todo dia é um pouco mais da Verdade e, para isso, é necessário ir além do meio termo, do conhecimento inadequado sobre as coisas.
A inexistência de microscópios eletrônicos negou-nos a existência dos vírus. O atual conhecimento que temos deles ainda é raso, mas melhoramos muito nos últimos 40 anos, porque soubemos nos debruçar sobre esta questão. E é o que tem sido feito nesses cantos onde a razão ainda impera que deveria inspirar os centros agora escuros, cheios de ignorância.
Onde não há razão, não há luz, as trevas imperam. Nesse cenário de trevas, o irrisório ganha destaque, pois a sensação de que se conhece alguma coisa transforma a ignorância em aceitável. Desatar-se do raso exige, portanto, postura contínua de quem deseja ir além do lugar-comum. Postura de quem quer ser livre de verdade, e não livre com limitadas opções, o que não é liberdade.
Para evitar o raso é necessário, em primeiro lugar, entender que o problema da falta de crítica do mundo atual não é culpa da futilidade das redes sociais e dos programas de entretenimento. Tanto as redes quanto os programas são feitos por seres humanos, portanto a causa de tudo está na mente; não há culpa em criações de terceiros, e sim no que nós mesmos estamos fazendo.
Se cada um de nós desejarmos de verdade ter uma visão mais profunda sobre as coisas da vida, do trabalho, do empreendedorismo, da inovação e da liberdade, certamente haveria outros líderes no mundo tão capazes quanto um Steve Jobs em diversos segmentos da sociedade. Ultimamente temos a sensação de que a beleza da razão só é utilizada mesmo nos avanços tecnológicos e científicos, ainda que mesmo esses tenham de conviver com atrasos políticos e econômicos que vilipendiam qualquer tentativa de um sucesso mais acelerado na inovação.
Ideias simples que poderiam mudar o mundo, como o fim de asfaltos e telhados escuros nas grandes cidades, carecem de um ouvido racional que comece a distinguir o joio do trigo de verdade. E são ideias simples como essas que podem mudar o mundo, causando um resfriamento de diversos graus no planeta Terra se todo mundo repensasse os processos. Quanta coisa não poderia mudar se racionalizássemos tudo, não é mesmo?
A proposta é de que voltemos a nos iluminar mais com a razão e que a utilizemos em todas as esferas de nossas vidas. Ao contrário do que alguns possam imaginar, a razão está longe de trazer a frieza do desamor para os corações, pois ela é fruto de um amor divino que nos presenteou com tal dom. E é com a mesma razão que iremos todos amar de verdade uns aos outros, e não apenas no discurso, para de fato vermos realizada na Terra a vontade divina de vivermos todos em salutar equilíbrio conosco e com a fabulosa Natureza de que fazemos parte.