quinta-feira, outubro 02, 2008

Cego silêncio

Na câmara escura dos sonhos
usufruo de um cego silêncio
que me eleva a edifícios tamanhos
no curto espaço em que não penso
não sinto, não toco, não falo
e ouço o som do universo intenso
de uma via láctea descendo no ralo

No espaço escuro dos sonhos que tenho
em que usufruo de um silêncio cego
em que não tenho, não vejo e não nego,
mas tudo tenho, pois advenho
da poeira da Terra, da água que é vinho
no sangue que corre, da veia ao verbo:
estou cego no escuro e em silêncio caminho.

Mas se encontramos no meio de tudo
um peito mais cheio, um semblante vazio
como tudo o que se reparte no meio
metade é centeio e metade é vil
Por isso os sonhos traduzem segredos
detonam os medos, fazem-nos sadios
quando olhamos enfim para dentro
em cego silêncio, olhares sem desvios.